«Se as Cartas de Mariana afinal não fossem literatura, seriam um banal documento biográfico sem estatuto artístico, uma mera exalação da vida ao alcance de qualquer freira, ou mesmo de qualquer alma apaixonada. E, todavia, foi a sua autenticidade, ou “naturalidade” como Boissonade escreveu, essa sinceridade já romântica avant la lettre, que persuadiu alguns entusiastas de que estariam perante uma ficção de tal qualidade que chegava mesmo a “parecer” real. Assim se gerou com as Cartas de Mariana esta espantosa ironia: o seu imprevisível sucesso não se deveu a elas serem autênticas, mas precisamente ao seu inverso – a parecerem autênticas. Enfim, um raciocínio circular, um verdadeiro jogo barroco.»
Filipe Delfim Santos, «Afinal nem todas as cartas de amor são ridículas», p. 47.
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Data de publicação: 29 de Abril
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